Participantes do Sínodo explicam o significado da proposta do rito amazônico
A proposta de introduzir um rito amazônico nas aldeias indígenas apareceu diversas vezes nos relatórios apresentados pelos padres sinodais, na semana passada. Nesta última semana de Sínodo para Amazônia, que será realizado até o próximo domingo, 27, padres sinodais e indígenas defenderam a proposta e a importância do respeito à cultura dos povos da floresta nas missas.
Segundo os documentos escritos ao longo do Sínodo, é preciso formalizar a realização de um rito amazônico que permita desenvolver-se sob o aspecto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar a riqueza singular da Igreja Católica na região. Conforme explicado em um dos relatórios, “símbolos e gestos das culturas locais podem ser valorizados na liturgia da Igreja na Amazônia, preservando a unidade substancial do rito romano, uma vez que a Igreja não deseja impor uma rígida uniformidade naquilo que não afeta a fé”.
O sacerdote indígena Eleazar López Hernández (à direita na foto acima), do povo Zapoteca, especialista em teologia indígena, explica que alguns elementos das culturas dos povos originários já foram incluídos nas missas, sem desrespeito algum ao rito romano. Segundo ele, a ratificação desses costumes pelo Sínodo para Amazônia é uma forma de confirmar a valorização da Igreja aos povos da floresta.
“Já existem diversos ritos pelo mundo. Na América Latina também precismos expressar a nossa fé com base na nossa cultura. Todos estamos unidos numa mesma fé, porém com diversas expressões. Continuar vivendo uma espiritualidade alheia à nossa cultura é alienação”, explica padre Eleazar.
Mas, afinal, que símbolos e gestos da cultura indígenas são esses que podem ser incorporados? O sacerdote indígenas esclarece: “nossos povos, por exemplo, são muito ligados a procissões. Eles sentem a necessidade de fazer uma caminhada até chegar à igreja, ao altar. Então pedem procissões em todos os tipos de missas. Também fazem ritos de oferecimento do trabalho e da colheita a Deus antes do ofertório ou se expressam por meio da dança. Nada que prejudique a missa”, afirmou o especialista.
Delio Siticonatzi Camaiteri, do povo Ashaninca no Peru, disse que os não indígenas que questionam a existência de um rito para Amazônia não deveriam ficar com o coração endurecido, vendo coisas que não existem. Em tom de apelo, ele afirmou: “por favor, não fiquem aflitos com esse rito. Adoramos um único Deus. O centro do nosso rito é Jesus Cristo, não há nada de profano, não há nada demais”.
O prefeito da Congregação para o Clero no Vaticano, o cardeal italiano Beniamino Stella, depois de ouvir as contribuições no Sínodo sobre o rito amazônico, disse que é natural essa demanda. “Os indígenas sentem necessidade de se comunicar na própria língua, de ter seus próprios ritos e símbolos, vejo isso tudo como normal. É preciso ainda analisar a questão, aprofundar, vai levar algum tempo. Se houver no documento final do Sínodo uma menção ao rito, depois é preciso estudar como fazer isso”, esclareceu.
Por Manuela Castro, via CNBB